'soon this space will be too small and I'll laugh so hard that the walls cave in then I'll die three times and be born again in a little box with a golden key and a flying fish will set me free ... soon this space will be too small and I'll go outside and I'll go outside'... lhasa de sela



ao Tiago,
(ao meu aluno Tiago Mansilha)

Estamos no ano da graça de 2007,

hoje, enquanto revia o seu texto:

"Nenhum homem é uma ilha, disse John Donne, mas atrevo-me humildemente a acrescentar: nenhum homem e nenhuma mulher é uma ilha, mas cada um de nós é uma península, com uma metade unida à terra firme e a outra a olhar para o oceano."
Quando li este excerto do livro Contra o Fanatismo de Amos Oz, estava dentro de um autocarro apinhado de gente trabalhadora, de ar cansado, silencioso (ou silenciado), olhares distantes e totalmente absortos do mundo. E dei por mim a pensar..."Cada homem é realmente uma península. Este gajo tem razão. Mas se assim o é, estes seres não são Homens." Existe alguma humanidade nesta vida pendular das cidades? (...)»]


não consegui deixar de pensar nas palavras de Cesariny:



"Há uma hora, há uma hora certa
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Há uma hora, desde as sete e meia horas da manhã
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Estamos no ano da graça de 1946
em Lisboa, a sair para, o meio da rua.
Saímos? Mas sim, saímos!
Saímos: seres usuais, gente gente! olhos, narinas, bocas,
gente feliz, gente infeliz, um banqueiro, alfaiates,
telefonistas, varinas, caixeiros desempregados
uns com os outros, uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo, abrindo os sobretudos, descendo
aos mictórios para apanhar eléctricos,
gente atrasada em relação ao barco para o Barreiro
que afinal ainda lá estava apitando estridentemente,
gente de luto, normalmente silenciosa
mas obrigada a falar ao vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico, em marcha,
gente jovial a acompanhar enterros
e uma mãe triste a aceitar dois bolos para a sua menina.
Há uma hora, isto: Lisboa e muito mais.
Humanidade cordial, em suma,
com todas as consequências disso mesmo
e a sair a sair para o meio da rua (...)”


Há uma hora, há uma hora certa, Mário Cesariny


Baraka III

Dúvida
de John Patrick Shanley.
1964. Uma igreja e escola católicas. Bronx, Nova York.
Um Padre é suspeito de assediar sexualmente uma criança de 12 anos.
A Madre Superiora acusa-o. O Padre reclama a sua inocência.
Será ele culpado ou inocente?

Interpretação: Eunice Muñoz, Diogo Infante, Isabel Abreu e Lucília Raimundo.

Teatro Maria Matos até 06-05-2007




a inquietação...
a única prova, a convicção.
a necessidade de agir.
o peso das acções.

Acompanhado pela densidade e tensão de uma banda sonora GRANDE.

"Dúvida" - Bernardo Sassetti (Trem Azul, 2007)
01 Prelúdio
02 Realidade Mov. I
03 Dúvida Mov. I
04 Interlúdio
05 Dúvida Mov. II
06 Nocturno Para Uma História Invisível
07 Realidade Mov. II
08 Dúvida Mov. III
09 Coral
10 Epílogo

"Quem não tiver a certeza de facto nenhum,
também não pode ter a certeza do significado das suas palavras."

"Quem tentasse duvidar de tudo,
não iria tão longe como se duvidasse de qualquer coisa.
O próprio jogo da dúvida pressupõe a certeza."

Da Certeza, L. Wittgenstein

[ODE to him]




wild is the wind


wild is the wind

wild is the wind
wild is the wind


...i hear the sound of mandolins





Wittgenstein explicado às criancinhas

1.-Sentir presenças básicas: sentir acima e abaixo, à esquerda e à direita, à frente e atrás. Notar o Antes e o Depois, o Aqui e o Ali.

1.1.- E estar-se destacado no horizonte, erguido numa orientação vegetal - para a luz e o azul, escapando à treva e à terra. Sentir-se dirigido.

2.- Ver, como os animais. Numa direcção nova, que estabelece um paralelo aos pés, à lama. Igualmente sem fim - o término horizontal é o ponto imaginado para onde a visão me impele. Acolher o confronto com a outra direcção, o meu vértice, que me atrai.

2.1.- Observar a minúcia que obtenho a partir daquilo que é próximo. Coisas que identifico, coisas a que posso dar nomes. E nomes por onde as posso reconhecer. Como «cão», ou «árvore», ou «Ana», ou «Filosofia», ou «3/4», ou «Lisboa».

3.- É aqui que começo a pensar. Como utilizo eu um processo único para atribuir nomes tão semelhantes a coisas tão diferentes? E que são diferentes por tão inumeráveis razões (Quais serão? Poderei enumerá-las? Mas para que serve o número?).

4.- Pensando melhor, que posso fazer com os nomes? Falar contigo, se estiver disposto a isso (é uma forma de gastar o tempo), e dizer-te: «Gosto muito de ti», ou «Os polvos classificam-se na categoria dos octópodes», ou «Nunca mais chega, esse autocarro», ou então «Vê se te evaporas». Desde que fales a mesma linguagem.

4.1.- Senão, reservarei os nomes para uma qualquer utilização futura; se os escrever eles ficarão guardados, e o que significam. É um modo de alongar a memória - e uma forma de iludir o tempo que continua a passar. Quero dizer: uma forma de o negar: e ainda que eu não recorde, alguém recordará.

5.- Pensando melhor ainda: que faço eu quando utilizo os nomes que criei? Quero dizer, o que é que eu estou a fazer, quando faço isso? E o que é que estou a fazer, quando junto os nomes em frases? Quero dizer: de onde trago os nomes que só aparecem nas frases (se digo que «isto é aquilo», por exemplo)? Que querem eles dizer? Que quero eu dizer? Quero dizer o que penso? Aquilo que penso será aquilo que digo, os nomes? Será que penso com os nomes, quando julgo estar a pensar em meu nome?

6.- Se existe uma ética nisto, não vejo qual seja. Certas coisas não se podem dizer, têm de mostrar-se.

6.1.- Às vezes, imagino-me por detrás de um véu que transparece entre mim e o mundo. É um véu onde se encontram todos os nomes, sustentados por débeis fios que os ligam a todas as coisas; e mantidos entre si por fios ainda mais débeis. Na minha imaginação, são todos esses fios que acabam por tecer o véu, véu que me separa das coisas, coisas (o que eu vejo e quero e toco e sinto) que estão sempre para além do véu, o que me causa uma certa ânsia.

6.2.- Em suma, julgo que apenas devemos dar importância às coisas que são realmente importantes. Isto parece-me lógico. O resto não vale a pena - só motiva um esforço vazio e tonto, que sempre traz grandes confusões e sarilhos. Porque, mesmo quando nos expressamos na mesma linguagem, nem sempre falamos a mesma língua. Nem sempre partilhamos um só entendimento acerca de cada estado das coisas. E a discussão é, assim, inevitável. Parece-me mais saudável estar prevenido - ser claro em tudo na linguagem. Por higiene. Para evitar embaraços. Como o flúor afasta os germes, assim eu afastarei as expressões confusas.

6.2.1.- Por outro lado, devo ser mais construtivo e optimista. Devo encarar isto como um jogo: falamos a mesma linguagem, mas o que fazemos com ela pode não ser concordante. E por vezes, se calhar, não pode mesmo ser concordante. Podemos dar por nós, então, a meio de uma conversa de surdos; num jogo onde cada um altera a regra a cada instante. Sem possibilidade de uma saída conjunta, sem um final feliz. Uma conversa que se pode tornar interminável. E um jogo que seria o passatempo total.

6.2.2.- As combinações possíveis! O número! Tempo não me falta, para o cálculo. Se tivesse vontade, podia procurar a fórmula ideal para o jogo, a fórmula ideal para mim, o lance que me permitiria sempre a certeza da jogada porque certeza é coisa que nunca tive (conheço o nome).

6.2.3.- Ressalva. Que me queimo se puser a mão no fogo: eis o que é certeza.

6.3.- Exceptuando o que é matemático (o que se repete), sempre que falo e afirmo, o que quero dizer é que sinto que tem que ser assim. Não me tomo por um iluminado, confesso até um certo pendor para o oculto. Mas a minha tendência vertical diz-me que não e a minha tendência animal diz-me que sim. Cruzado em duas direcções, não me decido entre o meu vértice e o meu vórtice, o céu e a lama. Não sei ser herói, nem mártir, nem santo, nem herético. São assuntos sobre os quais não me pronuncio, porque suponho que aquilo de que se não pode falar deve calar-se.

7.- No fundo, além de ti não existem mistérios: somente problemas indecifráveis. Se estiver bem disposto ao jogo, e tu, podemos desenvolver um outro estado para as coisas. Podemos conversar, passar o tempo. Enfim, ter relações.

© Jorge P. Pires
(publicado originalmente no semanário Blitz nº 244, 4 de Julho de 1989)




Ausência nata

Não nasci, que me recorde, de sítio algum. Se o fiz foi contra a minha vontade.



na minguante nº5: tema Ausência.

[sometimes i lost myself in a sea of pain...
but then comes the silence_________________]

Para ti,
porque em breve abraçarás novos voos...
porque, para te louvar pela coragem e dar força para o desafio,
não te poderia oferecer nada melhor...
[em modo de antecipação aqui fica:]


Andrew Bird dia 31 de Maio no São Jorge :)


Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.


Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.


Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.


Pelo Sonho é que Vamos, Sebastião da Gama

se te perguntarem por nós,



sobre
que coisa fazemos quando estamos
juntos,





diz a verdade


que deslocamos os cometas sem

querer,



as estrelas para desenhos e

a lua garantindo o amor









diz a verdade sobre a intervenção
na cósmica escolha dos casais,

a obrigação de nos obedecer



não fosse o universo desentender quem

somos e favorecer a separação ou,
pior, o não nos havermos conhecido



Photos de B Berenika,
Poema de Valter Hugo Mãe,
Música de Paulo Praça do álbum "Disco de Cabeceira" (
video-clip aqui)



































PLANTAGE


Plantage is a video-clip for Danish Band "Under Byen"
(Flash Movie 4,3 MB): aqui
para ver mais: amanita design by Jakub Dvorsky and Vaclav Blin







comforting sounds
Photos: Sophie Thouvenin